Ateliê: Maiêutica

No Spectrolab, temos um tempo próprio nos dias de ateliê e processos de criação. Às vezes nos reunimos juntos, as vezes separados. As vezes o coletivo também se faz só, num momento individual pra entender os próprios processos. Nestes encontros e desencontros, os afetos se cruzam e começam a culminar num tempo comum, onde as linhas de possibilidades vão se emaranhando, e a ideia começa a ser lapidada por cada um. Isso se aplica até na própria rotina de construção ou reforma de bonecos.

Ao acompanhar a rotina de Raquel Mütz pelo palco giratório e, principalmente, nos dias de ateliê em que a auxilei na reforma de Maiêutica, comecei a entender mais sobre o tempo e o processo de amadurecimento que o tempo proporciona na criação. Raquel tem um olhar diferenciado para o entendimento da criação. Ela nega a fórmula. Ser assistente de Raquel nestes últimos dias me mostrou que a intuição é o mais valioso na criação e na reforma dos bonecos. As vezes tudo que temos que fazer é não fazer nada. Esperar um dia ou dois e retomar o processo. A solução vem. Raquel se respeita a ponto de saber que tem de parar. Entende o próprio desgaste da intuição e se renova, se atravessa por outras coisas e modifica toda a sua estrutura, e retorna, transformada.

Na falta de uma fórmula de ação, de colar ou de cortar, Raquel transforma a intuição no próprio processo. É a experimentação e a experiência das texturas, dos sons, dos materiais. É o tempo que tudo isso leva pra ser qualquer coisa. Maiêutica é um parto. Tem seu próprio tempo de gestação. Criações prematuras têm problemas que poderiam ter sido solucionados com um olhar mais demorado no momento do processo. Abortos surgem na urgência do agora, quando o produto é mais importante que o processo, e podem ser evitados com a calma que Raquel tem em sua pausa. Acompanhar todo este processo ao lado dela é também se transformar e se reformar junto ao boneco.